segunda-feira, 26 de março de 2012

SEMANAS III e IV


É com grande prazer que volto de novo a descrever mais algumas experiências bastante enriquecedoras, durante estas últimas semanas de estágio.


Nas anteriores publicações do blogue iniciei a abordagem ao tema da Qualidade do Ar Interior (QAI), onde foi elaborado o trabalho de gabinete que incluiu muita investigação acerca deste assunto (artigos científicos, normas internacionais, legislação nacional, guias).

Por todas as questões que esta temática envolve, onde algumas já foram descritas, não poderia deixar de falar no Síndrome do Edifício Doente que está relacionado com a qualidade do ar interior.

A qualidade do ar dentro dos edifícios quando contaminado, é responsável pela maior percentagem de problemas respiratórios, alergias da pele e doenças infecciosas.

Síndrome do edifício doente (SED)

A organização mundial de saúde em 1983 (OMS) define o síndrome do edifico doente, como um conjunto de sintomas que abrange os ocupantes de um determinado edifico ou ambiente de trabalho, em que nenhuma doença nem agente ou agentes específicos podem ser identificados. Os sintomas tendem a tornar-se mais fortes quando o indivíduo se encontra dentro do edifício e diminuem até desaparecerem quando está fora do edifício (Franchi, et al., 2004; Godish, 2000; Rodes & Wiener, 2001).

A caracterização da síndrome do edifício doente pela OMS baseia-se na teoria de que as queixas de natureza sensorial ocorrem em consequência de uma irritação ou sobre estimulação nervosa. Por exemplo, a má qualidade do ar interior de um edifício induz a hiper-estimulação dos nervos trigémeos que respondem a odores químicos e produzem sensações de irritação, queimadura e comichão (Godish, 2000).

A síndrome do edifício doente foi definido pela OMS com base nos sintomas e queixas relatados que incluem entre outros a irritação dos olhos, nariz, garganta, sensação de mucosas secas, dores de cabeça, fadiga, irritação da pele, reacções de hipersensibilidade inespecíficas, aumento da frequência de infecções respiratórias, náuseas, diarreias e dos problemas gerais de saúde (Bonnefoy, 2007; Brightman & Moss, 2001; Godish, 2000).

Os sintomas causados pelo SED não constituem risco de vida, mas perturbam a qualidade de vida. Resultam na diminuição do desempenho no trabalho e nas relações interpessoais, além de uma quebra considerável na produtividade e no aumento do absentismo (Godish, 2000).
A presença de indivíduos que apresentam sintomas similares no mesmo edifício é a premissa indispensável para detecção do SED.

O SED confirma-se quando a presença dos sintomas ocorre num número significativo de pessoas e seja superior ao que é considerado normal para um edifício em condições normais. Para que um edifício possa ser considerado como responsável pelo SED é necessário que 20% dos ocupantes apresentem queixas (Kowalski, 2005).

No SED os ocupantes descrevem dos múltiplos sintomas, mas, nem sempre é possível identificar a verdadeira causa. A causa do SED pode ser explicada por diversos factores entre eles a contaminação bacteriana, produtos químicos, problemas de ventilação, humidade, temperatura, vibrações, barulho e mesmo problemas psicossociais (Hess-Kosa, 2001; Kowalski, 2005).
Fonte: Tese de mestrado, “A qualidade do ar hospitalar em termos microbiológicos”, Sandra Lucas



É importante realçar a preocupação do Serviço de Segurança e Saúde no Trabalho em relação a esta temática, onde através de estudos e/ou avaliações tenta melhorar as condições de ambiente interior dos edifícios dos quais tem responsabilidade, neste caso em concreto o Hospital, para que, posteriormente, possam ser implementadas medidas de controlo e melhoria da QAI, favorecendo a saúde dos seus ocupantes.

Ao longo destas últimas semanas foram desenvolvidas varias tarefas, iniciando o trabalho prático da Avaliação da Qualidade do Ar Interior.

  • Foi feito um reconhecimento de todos os locais onde irão ser efectuadas as medições no hospital, onde o meu orientador de estágio também aproveitou para me apresentar aos responsáveis desses mesmos locais, para que no futuro as pessoas afetas ao serviço não estranhem a minha presença;


As medições irão ser realizadas em quase todos os locais do hospital, excepto as zonas onde não se encontram trabalhadores e/ou utentes.

Locais onde serão efectuadas medições:

- Serviços Administrativos (contabilidade, expediente, informática,…);
- Serviços de Instalações e Equipamentos (carpintaria, pintura, serralharia,…)
- Zonas de Internamento: 6 pisos que contém enfermarias e unidades de tratamento de doentes de várias especialidades (ortopedia, cirurgia de ambulatório, medicina interna, cardiologia, pediatria, obstetrícia, …);
- Blocos Operatórios;
- Urgências;
- Anatomia patológica;
- Farmácia;
- Consultas externas;
- Laboratório;
- Esterilização;




 Serão realizadas cerca de 100 medições, distribuídas pelas zonas que foram referidas anteriormente, cada medição terá aproximadamente 15 minutos de recolha de dados.

Esta avaliação da QAI irá ter cerca de 25 horas de medições que irão gerar uma grande quantidade de dados que depois de tratados e analisados, irão permitir apresentar os resultados obtidos. Esta será sem dúvida uma tarefa que irá consumir muito tempo de estágio.




Para a realização destas medições será utilizado o Medidor Quest Technologies EVM-7.

Características do equipamento:


O Medidor Quest Technologies EVM-7, tem a capacidade de medir simultaneamente:

  •  Partículas (PM2,5, PM4, PM10);
  • Compostos Orgânicos Voláteis (COV’s);
  • Monóxido de Carbono (CO);
  • Dióxido de Carbono (CO2);
  • Humidade Relativa;
  • Temperatura;



Todas as características do Medidor EVM-7, reduzem a necessidade de múltiplos instrumentos a utilizar em medições para a avaliação da QAI, assim como reduz o custo e o tempo da execução das medições.



  • Foi testado o equipamento em diversas fases do dia e consoante as actividades desenvolvidas para que a amostra possa ser representativa;

Em alguns locais serão efectuadas mais que uma medição, pois são espaços que para além da sua actividade normal, em determinadas alturas do dia têm outras actividades pontuais (higiene pessoal dos utentes) e também mais ocupantes (horas de visita). Estes são factores importantes e que não podem ser descorados para que se possa obter uma avaliação que represente a realidade do ar interior existente nestes mesmos espaços.
  •  Elaboramos o manual de procedimentos da Avaliação da QAI para que o Serviço de Segurança e Saúde no Trabalho possa ficar com este registo para futuras medições.

O manual inclui: objectivo, aplicação, conceitos, legislação aplicável, referências bibliográficas, equipamento, procedimentos e anexos.

Em seguida apresento um dos pontos do manual que considerei importante referenciar nesta minha reflexão, visto serem estes os procedimentos que estou a adoptar no meu dia-a-dia de estágio.

Procedimentos a ter em conta na Avaliação da Qualidade do Ar Interior:

DEFINIÇÃO DE ZONAS DE MEDIÇÃO NO EDIFÍCIO

Para efeito da avaliação dos parâmetros de qualidade do ar interior, fixados no RSECE, num edifício (ou fracção autónoma) objecto de análise deve dividir-se os espaços por “zonas” ocupadas. Deve ser feita pelo menos uma medição de cada parâmetro exigido, conforme o nível de auditoria em causa, em cada uma das zonas definidas no edifício ou na fracção autónoma.


NA DEFINIÇÃO DAS ZONAS DE MEDIÇÃO NO EDIFÍCIO, PODEM SER APLICADOS OS SEGUINTES CRITÉRIOS:


- Os espaços a englobar numa mesma zona deverão ser contíguos e ser servidos pela mesma UTA - Unidade de Tratamento de Ar, e no caso de não existirem UTAs, que sejam servidos pelo mesmo sistema de ventilação.

- Os espaços numa mesma zona podem ainda apresentar determinadas características comuns, nomeadamente:
  • Apresentarem níveis e tipos semelhantes de actividades, cargas térmicas e fontes de emissão de poluentes;
  •  Compartimentação e organização dos espaços; open space, gabinetes, etc.;

 - Independentemente desta classificação por zona deve ser dada prioridade a zonas em relação aos quais existam registo de reclamações/queixas ou locais onde existam ocupantes mais susceptíveis;

Os locais de amostragem para uma avaliação de QAI podem ainda ser seleccionados:
  • Aleatoriamente.
  • Em zonas “isentas” para comparação com zonas de queixas.
  • Por zonas contíguas com características específicas. Como exemplo a proximidade com áreas de perfumarias, cosméticos, restauração, actividades de limpeza a seco, garagens, áreas de fumadores, sala de impressoras, etc;
  • Em zonas dos edifícios fustigadas por ventos predominantes.
  • Outras zonas podem ser consideradas, desde que justificadas.


DETERMINAÇÃO DO NÚMERO MÍNIMO DE PONTOS DE AMOSTRAGEM/MEDIÇÃO POR ZONA

Para uma estimativa do número mínimo de pontos (locais) de amostragem/medida pode ser utilizada a seguinte expressão, arredondado para a unidade:

Ni = 0,15 x Ai
                        Onde:
                                    Ni n.º de locais de medida na zona i
                                   Ai área da zona i, em m2.

  
DURANTE A RECOLHA DE DADOS, OS MONITORES DEVEM FICAR NO LOCAL SELECCIONADO COM BASE NOS SEGUINTES CRITÉRIOS:

- A monitorização/amostragem deverá ser conduzida num local que representa as actividades ocupacionais.

- Os locais devem ser seleccionados de modo a minimizar o impacto nas actividades extra laborais.

- Os locais devem de estar a pelo menos 0,5 m dos cantos e das janelas, as questões sobre a localização deverão ser devidamente documentadas. De qualquer modo, o local de monitorização deverá estar, em todos os casos, a pelo menos 0,5 m das janelas.

- Os locais deverão estar a pelo menos 0,5 m das paredes, divisórias, e de outras superfícies verticais (ex., cabines). De modo, é compreensível que tal pode ser difícil em alguns espaços ocupacionais. Nos casos em que esta preferência não pode ser alcançada, as questões sobre a localização deverão ser devidamente documentadas.

- As localizações não deverão estar directamente de baixo ou em frente dos difusores de abastecimento de ar, unidades de difusão, ventoinhas, ou aquecedores (pessoais), etc.

- As localizações não deverão estar a menos de 1m das fontes, tais como fotocopiadoras, impressoras ou fumo de cigarros, etc.

- Os locais não deverão obstruir nem interferir as saídas dos ocupantes da área de estudo nas situações normais e de emergência.

- As tomas de amostragens nos locais interiores, devem ser colocadas a uma altura de 1,5 ± 0,5 m acima do chão.

- A origem e natureza dos poluentes químicos e bacteriológicos. A ubiquidade do dióxido de carbono em todos os ambientes interiores e exteriores enquanto por exemplo a presença de ozono, monóxido de carbono, COVs, bactérias e fungos estão bem localizados e distribuídos não aleatoriamente.
Para a elaboração do manual foi tido em conta o Guia Técnico – Qualidade do Ar em espaços Interiores elaborado pela AgênciaPortuguesa do Ambiente (APA).


 Esta fase do estágio tem sido extremamente interessante, pois para alem de reforçar os meus conhecimentos na área de Segurança Higiene e Saúde no Trabalho, tem permitido também conhecer o funcionamento dos diferentes serviços do Hospital e as pessoas que os integram

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